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Coração de Tinta – Cornelia Funke   Leave a comment

CORAÇÃO DE TINTA

Sinopse: Há muito tempo Mo decidiu nunca mais ler um livro em voz alta. Sua filha Meggie é uma devoradora de histórias, mas apesar da insistência não consegue fazer com que o pai leia para ela na cama. Meggie jamais entendeu o motivo dessa recusa, até que um excêntrico visitante noturno finalmente vem revelar o segredo que explica a proibição.
É que Mo tem uma habilidade estranha e incontrolável: quando lê um texto em voz alta, as palavras tomam vida em sua boca, e coisas e seres da história surgem como que por mágica. Numa noite fatídica, quando Meggie ainda era um bebê, a língua encantada de Mo trouxe à vida alguns personagens de um livro chamado Coração de tinta. Um deles é Capricórnio, vilão cruel e sem misericórdia, que não fez questão de voltar para dentro da história de onde tinha vindo e preferiu instalar-se numa aldeia abandonada. Desse lugar funesto, comanda uma gangue de brutamontes que espalham o terror pela região, praticando roubos e assassinatos. Capricórnio quer usar os poderes de Mo para trazer de Coração de tinta um ser ainda mais terrível e sanguinário que ele próprio. Quando seus capangas finalmente seqüestram Mo, Meggie terá de enfrentar essas criaturas bizarras e sofridas, vindas de um mundo completamente diferente do seu.
A premissa do livro é interessante e rica, chama atenção logo de cara. É a história de Maggie e seu pai, Mo. Eles moram em um sítio numa casa tomada por livros. Mo trabalha como restaurador de livros: ele arruma as capas, cola as páginas, desamassa lombadas e etc. Quando Dedo Empoeirado aparece no sítio, em uma noite chuvosa e com notícias de um tal Capricórnio, tudo muda e na manhã seguinte Mo decide visitar uma tia que Maggie não conhece, com a desculpa de que arranjou tempo para arrumar os livros dela. Elinor é alucinada por livros, eles são seus filhos de papel e tinta e sua casa é cheia de estantes, como se ela morasse em uma biblioteca. Este parece um bom lugar para Mo esconder seu exemplar de “Coração de Tinta”. Maggie não entende nada: por que o tal Capricórnio quer o livro? Por que Mo está mentindo para ela? No meio da noite, homens de Capricórnio aparecem e  levam Mo e o livro, mas para a surpresa de Maggie, Elinor havia trocado o livro e os homens levaram o errado. Com medo do que possam fazer a Mo, Maggie parte com a tia e Dedo Empoeirado para a aldeia de Capricórnio e embarca em uma aventura que ela jamais imaginou. 
 É nesse cenário que Maggie descobre sobre o dom de Mo, a verdade sobre o sumiço da mãe e porque “Coração de Tinta” é tão importante. É difícil segurar a língua ou os dedos, tanto faz e não ficar horas escrevendo sobre os cenários bem feitos e o medo que os homens de Capricórnio passam. A resenha ficaria gigantesca. o.O Os personagens são muito bem construídos. Por mais louca que seja a Elinor (e também ranzinza no início) foi impossível não me encantar com seu amor pelos livros e sua coragem. O que ela sente por seus bebês de papel é quase palpável, diversas vezes eu me senti mergulhada na biblioteca dela, me imaginei lá dentro, a três passos de distancia das estantes. A introdução de cada capítulo é um detalhe sutil, mostra o quanto a autora é apaixonada por livros. Eu costumo gostar muito de livros onde personagens gostam de ler… Um livro onde, além de gostarem de ler, eles tem uma relação ainda maior com a história é algo sem palavras, daqueles que só entende quem leu o livro.  
 Outra coisa que tornou este livro um dos favoritos foi o final surpreendente. Todas as peças que eu tentei encaixar para formar um fim com pontas para a continuação simplesmente se perderam no caminho da leitura. Não sombram pontas nestes livros, tudo é tão bem amarrado que eu cheguei a me perguntar o motivo da continuação e então agradecia a Cornelia Funke por ter ter criado uma trilogia e não apenas um livro. É apaixonante, poético e traz o amor por um outro ângulo: o amor de pai para filha, de filha para pai. Lindo, lindo, lindo…

A Menina Que Fazia Nevar de Grace McCleen   Leave a comment

A MENINA QUE FAZIA NEVAR

Sinopse: Todos os dias se parecem na vida que Judith McPherson leva ao lado do pai. Eles têm uma rotina simples e reclusa, numa casa repleta de lembranças da mãe que ela nunca conheceu, e as únicas pessoas com quem convivem são os fiéis da igreja cristã a que pertencem. Judith não tem amigos na escola, onde é alvo de gozações, e para encontrar consolo se refugia no mundo de sucata que construiu em seu quarto. Lá, cada dia é um dia, e a vida pode ser incrivelmente feliz graças a sua imaginação. Basta acreditar que a Terra Gloriosa, como ela chama sua maquete, é realmente o paraíso prometido onde um dia vai viver ao lado da mãe. Aos dez anos, Judith vê o mundo com os olhos da fé, e onde os outros veem mero lixo, ela identifica sinais divinos e uma possibilidade de criar. Assim, constrói bonecos de pano e inventa para eles histórias felizes na Terra Gloriosa. O que nem Judith poderia imaginar é que talvez seu brinquedo seja mais do que uma simples maquete. Pelo menos é o que parece quando ela cobre a Terra Gloriosa de espuma de barbear e a cidade aparece coberta de neve na manhã seguinte. Um pequeno milagre, é assim que ela interpreta esse e outros sinais parecidos. Tão pequeno que muitas pessoas poderiam pensar que não passa de coincidência, mas Judith sabe que milagres nem sempre são grandes, e que reconhecê-los é um dom de poucas pessoas. Longe de ser benéfico, no entanto, esse poder traz consigo uma grande responsabilidade. Afinal, seria certo usar a Terra Gloriosa para se vingar de Neil Lewis, o colega que a maltrata todos os dias na escola?
“A fé é igual à imaginação. Ela vê uma coisa onde não há nada, dá um salto e de repente você está voando.”
Logo que entrei na livraria de cara já me encantei por esse livro, inicialmente pela capa e depois pela sinopse. Esse livro me envolveu tanto, que quando eu percebi já o tinha lido em poucas horas. A escrita de Grace McCleen não só cativa, como encanta o leitor, transbordando coisas belas e apaixonantes. Adorei a narração em 1° pessoa sob a visão de Judith, a autora soube muito bem trabalhá-la sob a perspectiva de uma garotinha de 10 anos – cheia de sonhos, medos e dúvidas.
Judith, uma garota de 10 anos, leva uma vida bem diferente da maioria das outras crianças da sua idade. Ela vive com o pai que a cria sobre uma firme doutrina religiosa e também com a saudade cortante da mãe que morrera ao dar a luz. Sua rotina é simples e as únicas pessoas que ela mantém convivência, são os fieis da igreja, de qual faz parte.
Na escola ela não tem o respeito por nenhum de seus colegas, que faz com que ela vive sofrendo deboches e travessuras por parte de seus colegas. O que faz com que ela crie um mundo só seu no seu quarto, o lugar preferido dela. Lá ela cria uma maquete da cidade utilizando todo tipo de sucata, na qual ela a chama de a Terra Gloriosa.
Judith enxerga com os olhos da fé, algo que é bem incomum na maioria das pessoas. Ela é capaz de identificar sinais divinos e possibilidades por trás. E quando ela resolve espalhar espuma de barbear sobre o seu mundo em miniatura, e sua cidade amanhece coberta de neve, ela chega a conclusão que esse e outros sinais, fazem parte de um pequeno milagre e como nem todos possuem a capacidade de reconhecê-los, muitas vezes, as pessoas podem confundi-los com mera coincidência. Mas o que Judith precisa dar conta, é que esses possíveis milagres nem sempre trazem apenas benefícios, porque por mais que sejam bem intencionados, eles podem resultar em desastres.
Fiquei bastante impressionado com a fé demonstrada pela pequena Judith. Por mais dores que aquela garotinha já trouxesse em seu coração, ela estava disposta sempre a acreditar que tudo poderia melhorar, e, graças a esse otimismo único, tudo começa a mudar na sua vida.
Não dá para não se encantar com o seu encanto e suas descobertas acerca da vida e da esperança. Seus desejos e anseios nada mais são tudo aquilo que uma criança da sua idade merece ter. O drama familiar é muito pesado com a barreira que existe entre ela e seu pai, que acaba sendo o drama central da narrativa e que quando finalmente começa a ser vencida, fez-me sentir muito comovido e emocionado. É certamente o ápice da emoção, e com certeza um dos momentos mais lindos.
O embasamento de religião contido no livro foi vivenciado por Grace em sua infância. Ela usa de uma forma que não afronta as demais religiões e céticos. É uma leitura capaz de agradar a todos, independente do que acreditam ou deixam de acreditar.
O ponto negativo, para mim, ficou co a conclusão da história, pois penso que ficou faltando algumas coisas no ar, alguns personagens mereciam ter um desfecho mais elaborado. A história acabou rápido demais, mas que não tira nem um pouco todo o encanto e o brilho deste romance lindo que merece todo reconhecimento possível daqueles que são capazes de terem seus corações transformados por uma bela história. Eu recomendo com certeza!
Abraços e beijos, Berma! 😉